segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Carta de um Professor aos Deputados Estaduais do Ceará

    





Olá senhores deputados da "Casa do povo", como estão? Espero que bem. Gostaria de me apresentar, pois sei que não me conhecem. Até porque não sou alguém de importância no contexto político e econômico no cenário estadual, nacional e mundial, mas sou suficientemente convicto em dizer que sou autônomo para defender idéias e convicções das quais julgo sensatas. Antes de tudo, farei, ao longo das seguintes linhas, um apelo patriótico, pois julgo que os inimigos da pátria na atualidade são aqueles que nasceram "nesse solo gentil" a qual vivemos e, se Deus quiser, seremos sepultados. Meu nome é Caio Ferreira Rocha, sou professor da rede pública de ensino da cidade de Aracati. Amo a minha profissão de ensinar e, como educador, contribuo, dentro das limitações que os aparelhos governamentais do Estado impõem, para edificar um país onde os indivíduos possam desafiar as dificuldades impostas pelo sistema econômico através do conhecimento. Nunca faltei a um dia de trabalho. Sempre cumpri com minhas obrigações como servidor público. Já sacrifiquei tempo da minha vida pessoal para dar o melhor aos meus alunos em saberes. Quantas vezes dormi em altas horas da madrugada corrigindo provas? Elaborando planos de aula? E mais do que nunca, me esforço a ser exemplo. Talvez o Estado do Ceará não queira que seja exemplo, já que escandalosamente deseja suprimir conquistas árduas da minha categoria profissional, esboçando uma proposta de plano de cargos e carreiras que desincentiva a qualificação através de mestrado e doutorado, concedendo menos de 100 reais de ajuste do "nível médio" para o "nível especializado". O governo do Ceará parece que não gosta de professor, já que mandará um anteprojeto para ser votado na Assembléia Legislativa. E queira eu estar enganado, mas creio que será aprovado, cometendo-se assim o maior atentado contra os direitos dos trabalhadores em educação no meu querido Estado do Ceará. Mas o peso disso não pesará apenas sobre os nossos ombros, pois os traidores da educação ficarão conhecidos, caso a proposta do Cambeba seja apreciada e aprovada. Não nos esqueçamos que ano que vem é eleição. Os senhores devem ganhar dezenas de vezes mais que eu, que recebo o quarto pior salário do Brasil na categoria educação, claro. Talvez os auxílios ou diárias que os senhores recebem sejam duas vezes ou até mais que meu salário (isso sendo modesto, claro). Isso não é inveja dos senhores, já que o povo democraticamente escolheu seus legisladores para representarem os interesses DA SOCIEDADE. É apenas uma comparação. O Brasil nunca será um país sério enquanto tivermos professores que necessitam trabalhar em vários colégios para poderem pagar suas contas e colocarem comida em suas bocas e alimentar seus filhos e dar a eles o mínimo necessário para que possam viverem dignamente neste país onde as nulidades e as injustiças são marcas registradas de nossa civilização. Entraremos em greve por amor a este país e à educação do meu Ceará. E não adianta o Estado jogar os alunos e seus pais contra os professores da rede pública estadual de ensino, pois essa situação é resultado do seu autoritarismo, que deseja suprimir conquistas históricas. Professores espancados. Chamados de vagabundos. Querem nos culpar pelo sucateamento da educação. Na minha escola, eu pago do meu bolso a xérox das provas dos meus alunos, pois os subsídios enviados não são suficientes para atenderem as demandas da instituição de ensino. O governo brasileiro, somando estados e municípios, arrecadou em torno de 800 bilhões de reais em impostos. Até o final do ano, esse número pode chegar a 1,5 trilhão de reais, aproximadamente. Não tem dinheiro para oferecer estruturas mínimas de ensino e dar aos educadores mais respeito no tocante aos seus vencimentos? Lembrem-se: Um dia os senhores passaram pelas mãos de professores. E espero que os senhores não lavem suas mãos diante daqueles que contribuíram para a prosperidade de suas vidas. Abraços cordiais. E me desculpem ter me alongado. Escrevi rapidamente, não tive tempo de fazer a devida correção ortográfica. Desculpem-me também meus erros de concordância. Mas são tantos erros cometidos na educação do Ceará que esses são pequenos. Aliás, não é preciso ser professor de português para identificar os grotescos erros na apostila do projeto "primeiro, aprender", do Estado do Ceará. Pensem nisso se fizerem a minha errata. Mas antes disso, pensem no país e nos brasileiros que vocês representam. A história julga os homens pelos seus erros. Portanto, não errem dessa vez.


Por Caio Ferreira Rocha, tirado da Comunidade do Orkut Professores do Ceará

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